A gestão Doria mudou outra vez de planos e resolveu pedir o registro emergencial, mas o dado da eficĂĄcia não foi apresentado. Na ocasião, a Sinovac pediu ao Butantan toda a base de dados para reavaliar o estudo, o que levaria até 15 dias.
Na Ășltima semana, a gestão Doria disparou um aviso à imprensa convidando jornalistas para o "anĂșncio sobre a eficĂĄcia da vacina do Butantan", no dia 7 de janeiro. Na apresentação, com a presença do governador Doria, a gestão afirmou que a Coronavac teve eficĂĄcia de 78% para a prevenção de casos leves de Covid-19 e de 100% para casos graves no estudo.
Os nĂșmeros foram comemorados pela população e por grupos de diferentes espectros polĂticos, mas cientistas questionaram o dado, uma vez que o governo não deu detalhes sobre como se chegou aos nĂșmeros e nem abriu as bases de dados do estudo.
O Butantan convocou a imprensa para um novo encontro, nesta terça-feira, quando os dados completos foram disponibilizados e a eficĂĄcia global, enfim, foi informada: 50,38%.
Com a aparente discrepância de informações, a campanha #DoriaMentiroso entrou nos assuntos mais comentados em redes sociais e virou piada para grupos ligados ao presidente Jair Bolsonaro, com quem Doria busca antagonizar.
"Se apertar mais um pouco, cai para 30%", afirmou um apoiador do presidente. "Caindo mais que a popularidade do Doria", escreveu outro.
Os nĂșmeros diferentes chamaram a atenção também da imprensa internacional. A Reuters chamou os dados de decepcionantes e o Wall Street Journal destacou que o imunizante é bem menos eficaz do que inicialmente.
Outro ponto que provocou crĂticas foi a eficĂĄcia para casos graves, anunciada como de 100% e propagandeada em peças publicitĂĄrias do governo Doria. Nesta terça, no entanto, o Instituto Butantan afirmou que os dados neste segmento ainda não tĂȘm significância estatĂstica.
"Chacrinha jĂĄ ensinou hĂĄ um tempão: quem não se comunica, se trumbica. A comunicação em saĂșde é uma das coisas mais importantes que se tem e deve ser feita com a maior clareza e transparĂȘncia possĂvel", afirma Ana Escobar, médica e divulgadora cientĂfica, que escreve sobre saĂșde e tira dĂșvidas na TV e na internet -só no Instagram tem mais de meio milhão de seguidores.
"Em relação à Coronavac, os nĂșmeros estão todos corretos, tanto os de semana passada quanto os de hoje. Interpretar a eficĂĄcia de uma vacina não é coisa corriqueira, simples. O governo pode não ter colocado os dados com muita clareza, mas agora a gente precisa reforçar que temos uma vacina boa, eficiente, eficaz e segura", diz ela, que elogia os esforços do Butantan para garantir a imunização.
Para o médico e pesquisador Marcio Bittencourt, "a estratégia de comunicação escolhida dĂĄ margem para pessoas questionarem a vacina. É um problema de comunicação, as pessoas não entendem o que os nĂșmeros significam e quem apresentou não os explica", diz ele, que afirma ter receio de que a estratégia errĂĄtica possa ter efeito na vacinação no paĂs.
Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP), afirma que que não houve manipulação polĂtica dos nĂșmeros divulgados pelo Butantan. "Só acho que eles deveriam ter publicado os dados todos em conjunto, inclusive esses 50,4%".
Domingos deixa claro, porém, que esse complemento não modifica os nĂșmeros que tinham sido apresentados anteriormente. "Continua sendo uma excelente vacina para a gente acabar com o caos que estĂĄ acontecendo hoje, principalmente de internações. É uma vacina eficaz, principalmente para casos graves e moderados, vai reduzir pra caramba o nĂșmero de internações. O que se tem que fazer é urgentemente começar a vacinação, a mais ampla possĂvel", afirma.
O dado divulgado nesta terça indica que a vacina reduz em 50% a chance de desenvolver a Covid-19 em qualquer intensidade, desde casos muito leves, com os sintomas mais brandos, até os mais graves.
Ademais, o imunizante se mostrou seguro: só 0,3% dos participantes reportaram algum tipo de reação alérgica.
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Fonte: Banda B