A jornalista TĂĄssia Di Carvalho só descobriu que tinha lĂșpus em 2012. No final do ano anterior, após uma noite de grande estresse, ela acordou com o rosto totalmente inchado. "Não consegui nem andar. Fui me arrastando até chegar ao banheiro para ver o meu rosto. Meus olhos estavam inchados".
TĂĄssia ligou para o marido e ele a levou para o pronto-socorro, onde os médicos julgaram se tratar de alergia a algum alimento ingerido. Receitaram corticoides e ela desinchou. Dois dias depois, voltou a inchar. Mais corticoides. "Ficaram nessa brincadeira cerca de dois meses. AĂ, me mandaram para a Santa Casa, porque ficaram com medo da quantidade de corticoides que eu estava tomando". Além disso, foi levantada a possibilidade de se tratar de uma doença crônica.
Na Santa Casa, TĂĄssia teve que recorrer à assistĂȘncia social para poder ser atendida com urgĂȘncia e não ter que aguardar durante meses para agendar uma consulta. Somente ali, após exames, a jornalista descobriu que tinha lĂșpus. Chegou a perder todo o cabelo, sofreu episódios sem conseguir andar, fez quimioterapia por cinco anos. Ficou com perda de visão e teve lesões cutâneas. Hoje, se trata com hidroxicloroquina.
Fatores
Esta segunda-feira (10) é o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com LĂșpus, que faz parte da campanha mundial de conscientização "Maio Roxo", cujo objetivo é incentivar o diagnóstico precoce e controle da doença. O presidente da Comissão CientĂfica de LĂșpus da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Edgard Reis, disse à AgĂȘncia Brasil que não existe um fator Ășnico para o aparecimento do lĂșpus.
Ele resulta de uma junção de fatores genéticos, ambientais (radiação ultravioleta) e hormonais (estrógeno) que atuam sobre o sistema autoimune. "Ou seja, o próprio indivĂduo começa a produzir anticorpos, células, moléculas que vão atacar o próprio organismo. Em vez de atacar vĂrus e bactérias, acabam por atacar o próprio organismo também", afirmou Reis.
O lĂșpus é um doença reumĂĄtica, crônica, que afeta principalmente mulheres entre 15 e 45 anos de idade, perĂodo compreendido, em geral, após a primeira menstruação e a pré-menopausa. Como se trata de uma doença crônica, não tem cura.
"Mas tem um bom controle", advertiu o médico. Com o uso de medicamentos adequados, o paciente tem uma vida praticamente normal, completou. "Não existe um remédio que vai estabelecer uma cura especĂfica, ao contrĂĄrio do que ocorre com a pneumonia, por exemplo". Admitiu, por outro lado, que após a menopausa, existe tendĂȘncia de melhor controle do lĂșpus, caso essa seja uma doença menos agressiva.
Sintomas
No inĂcio, alguns sintomas podem ser inespecĂficos, como cansaço, desânimo, febre diĂĄria baixa, emagrecimento, inapetĂȘncia, alterações de humor, dor nas articulações e no corpo. Reis lembrou que alguns pacientes podem ter problema no pulmão, como tosse, falta de ar; às vezes alterações renais como diminuição da urina; manifestações do sistema nervoso que são mais raras, como quadros de convulsão e até mesmo de alterações psiquiĂĄtricas. "Depende muito de paciente para paciente".
Edgard Reis destacou que o Dia Internacional de Atenção à Pessoa com LĂșpus, ou Dia Mundial do LĂșpus, é importante não só para a prevenção da doença, mas para a conscientização. "Porque não é uma doença que é bem divulgada na mĂdia. Então, é importante para que as pessoas entendam que ela existe, quais os principais sintomas, visando à realização de um diagnóstico precoce da doença, para melhora do tratamento e do desfecho a longo prazo. Essa conscientização é importante também para que os parentes do doente entendam do que se trata.
O lĂșpus não é contagioso. Não é uma doença infecciosa, mas do sistema imune. "Não pega de pessoa para pessoa, não é transmissĂvel". Quando hĂĄ suspeita clĂnica, pode ser pedido ao paciente que faça exames gerais, entre eles hemograma completo, exame de urina para saber se tem alterações nos rins, e alguns anticorpos. "Em alguns casos, quando se faz necessĂĄrio, podem ser feitos alguns exames de imagem, radiografia, tomografia, ecocardiograma, ou mesmo anĂĄlise dos tecidos, com biópsia da pele e do rim". O tratamento visa a diminuir a progressão do quadro, reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente.
Fonte: Bahia.Ba