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Merenda escolar pode ter papel protetor contra doenças crônicas

Adolescentes que consomem alimentos fora de casa apresentam menos propensão a desenvolver hiperglicemia e hipertensão arterial, comparados a jovens que fazem as refeições em casa. Uma explicação estĂĄ no fato de a maioria dessas refeições serem feitas na escola, sobretudo pelos alunos da rede pĂșblica de ensino

Por Redação Agência Brasil em 06/02/2021 às 19:18:16

Adolescentes que consomem alimentos fora de casa apresentam menos propensão a desenvolver hiperglicemia e hipertensão arterial, comparados a jovens que fazem as refeições em casa. Uma explicação estĂĄ no fato de a maioria dessas refeições serem feitas na escola, sobretudo pelos alunos da rede pĂșblica de ensino.

É o que mostra estudo publicado na edição de janeiro de 2021 da revista Cadernos de SaĂșde PĂșblica por pesquisadores da Universidade Estadual do CearĂĄ (Uece), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Para investigar a relação entre o consumo de alimentos fora de casa e a propensão de adolescentes a desenvolver doenças crônicas, os pesquisadores utilizaram dados do Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (Erica), feito em 2013 e 2014. O Erica foi conduzido com 36.956 jovens de 12 a 17 anos, que estudavam em escolas pĂșblicas e privadas de municĂ­pios com mais de 100 mil habitantes, de todas as regiões brasileiras.

Para o estudo, os jovens foram pesados e tiveram a estatura medida para o cĂĄlculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Eles também tiveram a pressão arterial aferida e realizaram exames de sangue. Responderam ainda a um recordatório alimentar sobre o que haviam consumido nas Ășltimas 24 horas e onde haviam feito essas refeições.

O consumo de alimentos fora de casa foi citado por 53,2% dos adolescentes, sendo maior entre aqueles que estudavam em escolas privadas (62,5%). No entanto, considerando apenas a alimentação realizada na escola, a frequĂȘncia do consumo foi trĂȘs vezes maior entre os estudantes da rede pĂșblica (61,7%) na comparação com os da rede privada (21,4%).

"O ambiente escolar é uma grande oportunidade para o desenvolvimento da alimentação saudĂĄvel desde a infância", diz a principal autora do artigo, Suelyne Rodrigues de Morais, que completa: "É nesta fase da vida que começam a ser moldados os hĂĄbitos alimentares, que poderão perdurar até mesmo na vida adulta. A merenda escolar, além de fornecer nutrientes importantes para a criança, pode auxiliar na introdução de novos alimentos, muitas vezes desconhecidos pelos estudantes, seja por falta de acesso ou simplesmente por não fazer parte do hĂĄbito alimentar da famĂ­lia".

Biomarcadores mais baixos

Na anĂĄlise geral, os pesquisadores encontraram uma relação inversa entre consumo de alimentos fora de casa e a ocorrĂȘncia de hiperglicemia, que é a alta taxa de glicose no sangue, em ambos os sexos. Não houve associação entre consumo de alimentos fora de casa com excesso de peso e outros biomarcadores para doenças crônicas, como taxas de hemoglobina glicada, triglicerĂ­deos e colesterol total.

JĂĄ as anĂĄlises estratificadas por sexo e rede de ensino mostraram que os meninos que estudavam em escolas pĂșblicas e que consumiam alimentos fora de casa apresentaram menor probabilidade de ter altas doses de insulina e glicose no sangue do que aqueles que faziam as refeições somente em casa. Entre as meninas de escolas pĂșblicas, aquelas que se alimentavam fora de casa também tiveram menor chance de apresentar hipertensão arterial e hiperglicemia.

Sobre a ingestão média calórica e de açĂșcar de adição, esta foi maior nos adolescentes que consomem alimentos fora de casa, assim como o consumo de sanduĂ­ches, sobremesas e refrigerantes. Mas, ao mesmo tempo, os adolescentes que se alimentam fora de casa também apresentaram maior ingestão de frutas, fibras, verduras e feijão. Esses achados foram observados somente nos estudantes da rede pĂșblica de ensino.

Importância da merenda

Segundo Suelyne, o papel protetor da alimentação fora de casa em indicadores bioquĂ­micos nos adolescentes pode ser em função de um maior consumo da merenda escolar. "O estudo enfatiza a importância da qualidade da alimentação na escola e a sua influĂȘncia na dieta dos adolescentes, jĂĄ que a oferta de alimentos saudĂĄveis, como frutas e legumes, pode propiciar melhor consumo desse grupo alimentar pelos estudantes", completa a pesquisadora. Ela é a autora da dissertação de mestrado que originou o artigo, defendida em 2019 na Uece e que teve financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de NĂ­vel Superior (Capes).

Segundo ela, os achados sobre maior prevalĂȘncia de hipertensão e hiperglicemia em adolescentes que não consumiram alimentos fora de casa e sobre excesso de peso nos dois grupos também são dados importantes. "Eles permitem ampliar o olhar para o tipo de alimentação que vem sendo feita por esse grupo populacional também em casa".

Com esse estudo, no entanto, não é possĂ­vel afirmar que os adolescentes que tĂȘm uma alimentação equilibrada na escola a repetem em casa. "O estudo não comparou se as refeições da escola são feitas similarmente em casa. Foi avaliado o consumo de alimentos especĂ­ficos, tomando como base para a avaliação o Guia Alimentar Para a População Brasileira. Além da avaliação de nutrientes especĂ­ficos, nas quais o consumo excessivo pode ser considerado fator de risco para o desenvolvimento de doenças (exemplo: açĂșcar de adição e sódio) ou que o consumo adequado é fator de proteção para outras (exemplo: fibras)", explica Suelyne.

A pesquisadora informa que esse foi o primeiro trabalho de base escolar no Brasil com grande representatividade, que avaliou o consumo alimentar efetivo desses adolescentes juntamente com exames bioquĂ­micos. "Tendo em vista a relevância desses resultados, serĂĄ dada continuidade à pesquisa, refinando os dados em anĂĄlises futuras, com o intuito de elaborar trabalhos de intervenção que melhorem a merenda escolar e favoreçam escolhas alimentares mais saudĂĄveis para os adolescentes", acrescenta.


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Fonte: AgĂȘncia Brasil

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