publicidade
cria

Estresse social pode ser gatilho para quem tem esquizofrenia

A esquizofrenia Ă© uma doença que acomete cerca de 1% da população brasileira e mundial, o que significa dois milhões de pessoas no Brasil e em torno de 80 milhões em todo o globo

Por SERGIO RIOS em 06/12/2020 às 22:35:44

A esquizofrenia é uma doença que acomete cerca de 1% da população brasileira e mundial, o que significa dois milhões de pessoas no Brasil e em torno de 80 milhões em todo o globo.

Segundo o psiquiatra Cristiano Noto, da Escola Paulista de Medicina da Universidade de São Paulo (Unifesp), o isolamento social pode ser um gatilho para quem tem a doença. "Ninguém se torna portador de esquizofrenia por conta da pandemia. Mas, seguramente, uma situação de estresse social pode contribuir [para uma crise]".

Segundo Noto, a esquizofrenia tem vĂĄrias causas. A principal delas é o fator genético, embora fatores ambientais contribuam também para o desenvolvimento da doença, que enfrenta ainda muito preconceito. Frases do tipo "essa polĂ­tica é para esquizofrĂȘnicos", por exemplo, mostram como a doença é enxergada com muito estigma em relação aos pacientes, citou o psiquiatra da Unifesp.

Tratamento multidisciplinar

Cristiano Noto afirmou que o tratamento para esquizofrenia é também complexo e deve ser multidisciplinar, envolvendo profissionais como médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros. O tratamento se divide em farmacológico, que inclui medicamentos antipsicóticos, e psicossocial, para ajudar o paciente a se adaptar às limitações da doença e vencĂȘ-las.

O especialista indicou que como qualquer transtorno mental, a esquizofrenia traz muito sofrimento ao paciente. Por isso, é comum que essas pessoas acabem, em situações extremas, como em tentativa de suicĂ­dio.

Dependendo de como é feito o tratamento, a pessoa com esquizofrenia pode ter uma vida normal e, inclusive, casar e ter filhos. "Se ela estĂĄ fazendo o tratamento, estĂĄ bem, estĂĄ estĂĄvel, tem total condição de ter uma vida normal. Trabalhar, constituir famĂ­lia. Não tem nenhuma contra-indicação em relação a isso. Muito pelo contrĂĄrio. A gente sempre estimula que os pacientes tenham uma vida produtiva, uma vida construtiva", disse Noto.

O psiquiatra admitiu, por outro lado, que alguns pacientes não conseguem atingir isso, seja porque não fazem tratamento de forma adequada, seja porque os casos deles são mais severos. Observou, entretanto, que "em regra, sim, eles podem ter uma vida normal".

ViolĂȘncia

Outro mito ligado à esquizofrenia diz respeito à violĂȘncia. Cristiano Noto informou que esquizofrĂȘnicos em crise até podem se envolver em casos de violĂȘncia e agressividade mas, em geral, essas pessoas acabam sendo mais vĂ­timas do que autoras de violĂȘncia, justamente por se colocarem em situações de vulnerabilidade. Noto salientou que quando a pessoa estĂĄ medicada, estĂĄ em uma fase estĂĄvel, ela pode ter a mesma chance de qualquer outra de ter um caso de agressividade.

A doença costuma mostrar os primeiros sintomas no final da adolescĂȘncia e começo da vida adulta, manifestando-se nos homens a partir dos 18 anos de idade e, nas mulheres, a partir dos 25 anos.

O professor da Unifesp recomendou às famĂ­lias que tenham parentes com esquizofrenia que busquem ajuda e tratamento e sempre estimulem seus familiares a continuar o tratamento e o processo de melhora que, muitas vezes, pode ser longo. "Se a pessoa tem crises, ela vai conseguindo as conquistas passo a passo. Por isso, é muito importante a famĂ­lia para suportar e ajudar essas pessoas a irem adiante".

A participação do paciente em atividades de lazer ou mesmo rotineiras deve ser estimulada, de modo a abandonar os sintomas negativos que o impelem a deixar de fazer as coisas. "Quanto mais a gente estimular ela para tudo, para esporte, lazer, estudo, trabalho, quanto mais ela conseguir fazer, melhor, mais vai ajudĂĄ-la na doença".

Transtornos

Segundo o coordenador e professor do curso de pós-graduação em Psiquiatria da PontifĂ­cia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Jorge Jaber, a esquizofrenia acomete dois a cada 100 brasileiros e é caracterizada por grande sofrimento em termos comportamentais, com transtorno na capacidade de ter sentimento, nos pensamentos que são persecutórios, acompanhados de alucinações visuais e auditivas, muitas vezes, que evoluem para perda da capacidade intelectual ao longo da vida.

Segundo Jaber, a doença estĂĄ cada vez mais ligada ao uso de bebidas alcoólicas, e de substâncias ilĂ­citas, como as drogas vendidas irregularmente no paĂ­s. Da mesma forma que afirmou Cristiano Noto, o psiquiatra da PUC-RJ disse que a esquizofrenia resulta de transmissão genética, hereditĂĄria, e é acompanhada pelo surgimento de outras doenças, como obesidade, diabetes, problemas clĂ­nicos gerais. "Porque esses pacientes, em virtude da doença bĂĄsica, perdem a capacidade de cuidar deles mesmos".

A notĂ­cia boa, segundo Jaber, é que a partir das Ășltimas décadas do século passado surgiram medicamentos melhores que podem atingir evolução no século atual de grande eficĂĄcia na manutenção da normalidade desses pacientes. "Então, hoje em dia, é possĂ­vel tratar uma pessoa com esquizofrenia com evolução excepcional". Jaber destacou, porém, a necessidade de haver serviços de internação emergencial para perĂ­odos em que o paciente tenha alguma piora ou crise. "Em duas ou trĂȘs semanas, pode voltar à vida completamente normal, sempre que mantiver o tratamento ambulatorial, em consultório".


APOIADORES:


Fonte: Portal Correio

Comunicar erro

ComentĂĄrios