Desde 2009, uma resolução da agĂȘncia proĂbe a fabricação, comercialização, importação e propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, popularmente conhecidos como vape. No ano passado, a diretoria colegiada aprovou, por unanimidade, relatório técnico que indicava a necessidade de se manter a proibição dos dispositivos e a adoção de medidas adicionais para coibir o comércio irregular, como ações de fiscalização e campanhas educativas.
Desde 2003, quando foram criados, os equipamentos passaram por diversas mudanças: produtos descartĂĄveis ou de uso Ășnico; produtos recarregĂĄveis com refis lĂquidos (que contém, em sua maioria, propilenoglicol, glicerina, nicotina e flavorizantes), em sistema aberto ou fechado; produtos de tabaco aquecido, que possuem dispositivo eletrônico onde se acopla um refil com tabaco; sistema pods, que contém sais de nicotina e outras substâncias diluĂdas em lĂquido e se assemelham a pen drives, entre outros.
Em dezembro, a Anvisa abriu consulta pĂșblica para que interessados pudessem participar do debate sobre a situação de dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil, "com argumentos cientĂficos e relatos relevantes relacionados ao tema". A proposta de resolução colocada em discussão pela agĂȘncia foi a de manutenção da proibição jĂĄ existente. A consulta foi encerrada em fevereiro. Pouco antes do prazo ser encerrado, a Anvisa havia recebido 7.677 contribuições sobre o tema.
Com aroma e sabor agradĂĄveis, os cigarros eletrônicos chegaram ao mercado com a promessa de serem menos agressivos que o cigarro comum. Entretanto, a Associação Médica Brasileira (AMB) alerta que a maioria absoluta dos vapes contém nicotina – droga psicoativa responsĂĄvel pela dependĂȘncia e que, ao ser inalada, chega ao cérebro entre sete e 19 segundos, liberando substâncias quĂmicas que trazem sensação imediata de prazer.
De acordo com a entidade, nos cigarros eletrônicos, a nicotina se apresenta sob a forma lĂquida, com forte poder aditivo, ao lado de solventes (propilenoglicol ou glicerol), ĂĄgua, flavorizantes (cerca de 16 mil tipos), aromatizantes e substâncias destinadas a produzir um vapor mais suave, para facilitar a tragada e a absorção pelo trato respiratório. "Foram identificadas centenas de substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerĂgenas."
Ainda segundo a AMB, o uso de cigarro eletrônico foi associado como fator independente para asma, além de aumentar a rigidez arterial em voluntĂĄrios saudĂĄveis, sendo um risco para infarto agudo do miocĂĄrdio, da mesma forma que os cigarros tradicionais. Em estudos de laboratório, o cigarro eletrônico se mostrou carcinógeno para pulmão e bexiga.
Entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020, foi registrado um surto de doença pulmonar em usuĂĄrios de cigarros eletrônicos. Apenas nos Estados Unidos, foram notificados quase 3 mil casos e 68 mortes confirmadas.
Além do debate no âmbito da Anvisa, tramita no Senado o Projeto de Lei (PL) 5008/2023, de autoria da senadora Soraya Thronicke, que permite a produção, importação, exportação e o consumo dos cigarros eletrônicos no Brasil.
De acordo com a Pesquisa Nacional de SaĂșde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica (IBGE) em 2019, 22,6% dos estudantes de 13 a 17 anos no paĂs disseram jĂĄ ter experimentado cigarro pelo menos uma vez na vida, enquanto 26,9% jĂĄ experimentaram narguilé e 16,8%, o cigarro eletrônico.
O estudo ouviu adolescentes de 13 a 17 anos que frequentavam do 7Âș ano do ensino fundamental até a 3ÂȘ série do ensino médio das redes pĂșblica e privada.
O Brasil é reconhecido internacionalmente por sua polĂtica de controle do tabaco. Em julho de 2019, tornou-se o segundo paĂs a implementar integralmente todas as medidas previstas pela Organização Mundial de SaĂșde (OMS) no intuito de reduzir o consumo do tabaco e proteger as pessoas das doenças crônicas não transmissĂveis (DCNTs).
Fonte: AgĂȘncia Brasil