Deputados Amom (C) e Duarte Jr., presidente da comissão
Em audiĂȘncia pĂșblica realizada na Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, os participantes defenderam o cumprimento das leis que asseguram os direitos de pessoas do espectro autista. A data é comemorada em 2 de abril.
Assim como outras mães atĂpicas, a coordenadora do Movimento Orgulho Autista Brasil da Região Nordeste, Poliana Gatinho, reivindicou a contratação de acompanhante especializado pelas escolas, por exemplo. Esse direito é assegurado por lei desde 2012. No entanto, segundo relatos dos participantes da audiĂȘncia, até hoje quase nunca a legislação é cumprida. "A inclusão escolar no Brasil é uma mentira que nos contam, e a gente finge que acredita porque a gente não pode desistir da vida escolar dos nossos filhos, porque é na escola que eles tĂȘm a oportunidade de aprender, de se desenvolver, de escrever e de serem cidadãos como todo o cidadão brasileiro", lamentou Poliana.
Moradora de São Luiz, no Maranhão, ela afirma que a cidade não conta sequer com professores de apoio. Ela própria paga um tutor para o filho frequentar a escola. Ainda assim, afirma que a inclusão dele fica comprometida. "Ele vai para a aula com o professor de apoio dois dias por semana, porque quando ele não tem tutora, ele não é capaz de acompanhar, ele precisa sair, ele precisa levantar, às vezes ele precisa oralizar. Como é que ele vai estar numa sala com 35 alunos e apenas uma professora?".
Laudo médico
De acordo com a presidente do Instituto Autismo no Amazonas, Ana Maria Silva do Nascimento Melo, no estado hĂĄ relatos de famĂlias na fila de espera hĂĄ mais de um ano por consulta na rede pĂșblica para conseguir o diagnóstico de autismo. Enquanto isso, a ativista ressalta que crianças e familiares ficam "condenados à exclusão". Sem acesso ao laudo médico, autistas não tĂȘm acesso a direitos como isenção de passagem no transporte pĂșblico, acompanhamento médico, adequação escolar e recebimento do BenefĂcio de Prestação Continuada (BPC).
JĂĄ o diretor de Comunicação da Abraça, David Morais, destacou que a Lei Brasileira de Inclusão garante o direito à acessibilidade no ambiente de trabalho para pessoas com autismo. No entanto, nesse caso também, a lei não estaria sendo cumprida. "Pesquisa mostra que as pessoas autistas estão fora do mercado de trabalho, pela falta de adaptações, pela falta de suporte, acessibilidade, porque a inclusão é só um bla bla bla bla ainda, infelizmente, a inclusão é um faz de conta."
Existe na Câmara projeto de lei que trata do trabalho apoiado para as pessoas do espectro autista. A deputada Erika Kokay (PT-DF) relatou que a proposta jĂĄ foi aprovada na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com DeficiĂȘncia. A parlamentar defendeu a aprovação definitiva da medida, "para que todas as pessoas tenham todos os direitos".
O deputado Amom Mandel (Cidadania-AM) relatou a própria experiĂȘncia com o autismo. O parlamentar recebeu o diagnóstico aos 14 anos. "Por muito tempo, eu tive vergonha disso. Tive resistĂȘncia até mesmo dentro da famĂlia, quando tive esse diagnóstico na minha infância, me forçaram a lutar arte marcial, por exemplo, para ter contato ali, humano, porque não eu olhava no olho das pessoas. O meu diagnóstico foi tornado pĂșblico, não pela minha vontade, mas por opositores do meu estado."
EstatĂsticas
Amom Mandel reclamou da falta de estatĂsticas sobre as pessoas do espectro autista. O deputado defendeu que, com levantamento adequado do Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĂstica, os governantes seriam obrigados, por exemplo, a contratar acompanhantes especializados para as escolas em quantidade adequada.
Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com DeficiĂȘncia e autor do pedido para a realização da homenagem ao dia de conscientização sobre o autismo, o deputado Duarte Jr. (PSB-MA) comemorou que, pela primeira vez, a comissão contou com intérprete de libras. Segundo o parlamentar, a tradução serĂĄ definitiva a partir de agora.
Fonte: AgĂȘncia Câmara NotĂcias