"A campanha é essencial para a gente fazer a conscientização sobre o câncer de pulmão, principais sinais e sintomas e, principalmente, sobre como preveni-lo. É uma doença extremamente prevenĂvel", afirmou o oncologista clĂnico do Inca, Luiz Henrique AraĂșjo.
Campanhas antitabagismo são fundamentais para minimizar o risco de câncer de pulmão, diz oncologista clĂnico do Inca, Luiz Henrique AraĂșjo. Segundo o médico, a maior parte desse tipo de câncer estĂĄ associada ao hĂĄbito do tabaco. Na avaliação do oncologista, as campanhas antitabagismo são fundamentais para minimizar o risco de câncer de pulmão. Indicou que as pessoas que fumam devem procurar o médico, seja um clĂnico ou pneumologista, e discutir sobre as possibilidades de tratamento e de interrupção do tabagismo.Para as pessoas que fumam e tĂȘm entre 55 e 70 anos de idade, hoje é recomendada uma tomografia anual de baixa dose do tórax, para detectar lesões em estĂĄgios muito precoces. "Isso tem reduzido bastante a mortalidade do câncer de pulmão", alertou Luiz Henrique, em entrevista à AgĂȘncia Brasil.
A médica Tatiane Montella, oncologista torĂĄcica da OncoclĂnicas no Rio de Janeiro, ressaltou que o câncer do pulmão tem relação muito forte com o tabagismo. "Oitenta por cento dos pacientes tiveram alguma exposição ao tabagismo. Por isso, é tão importante falar sobre esse tema, porque a prevenção é a principal ação para diminuir o nĂșmero de pacientes com câncer de pulmão", afirmou à AgĂȘncia Brasil.
Ela informou ainda que os 20% restantes são de pacientes sem qualquer relação com o fumo. "Possivelmente, essa parcela dos pacientes tem erro na estrutura do DNA ou do RNA do tumor, que faz as células se proliferarem de forma errônea. O que leva a esse erro ainda estĂĄ sob anĂĄlise. Essas mutações acionam a célula tumoral a se desenvolver".
Sobre a prevenção, Tatiane Montella disse que a principal ação é não fumar ou parar de fumar, para evitar a neoplasia de pulmão. "O Brasil foi, durante muitos anos, o paĂs que teve orgulho de suas polĂticas antitabagistas, que diminuĂram muito a incidĂȘncia do tabagismo, e isso foi propagado como referĂȘncia internacional". Agora, o paĂs se vĂȘ diante dessa nova onda de oferta de tabagismo pelo cigarro eletrônico, que vem acometendo, principalmente, a população mais jovem, entre 18 e 24 anos.
A oncologista afirmou que, embora tenha o apoio da AgĂȘncia Nacional de Vigilância SanitĂĄria (Anvisa) proibindo a venda do cigarro eletrônico, também chamado 'vape', o consumo desse tipo de cigarro vem crescendo entre os jovens. "O que a gente vĂȘ, nos Ășltimos dados epidemiológicos, é que a incidĂȘncia do cigarro eletrônico vem aumentando nessa população jovem que, de fato, estĂĄ tendo uma maior exposição". Ela acrescentou que ainda falta entender melhor as consequĂȘncias do cigarro eletrônico ao longo dos anos, porque é uma tecnologia muito recente. Mas, que, no curto prazo, os prejuĂzos que isso pode trazer, como doenças pulmonares intersticiais agudas e, a longo prazo, relação direta com o câncer de pulmão e outras neoplasias que o cigarro propicia.
Estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e pela organização global de saĂșde pĂșblica Vital Strategies, em 2023, indicou que, pelo menos um a cada quatro brasileiros de 18 a 24 anos (23,9%) jĂĄ utilizou cigarro eletrônico.
Luiz Henrique AraĂșjo confirmou o crescimento do uso do cigarro eletrônico entre os jovens, tornando-se uma tendĂȘncia, na sensação de ser um produto diferente do cigarro. "Mas jĂĄ estĂĄ mais do que demonstrado que ele também libera substâncias carcinogĂȘnicas e estĂĄ associado tanto a doenças pulmonares letais não oncológicas, como oncológicas. Na campanha antitabagismo entra o cigarro eletrônico, atualmente mais em voga".
Na avaliação do oncologista clĂnico do Inca, a medida da Anvisa contra a entrada do "vape" no Brasil foi fundamental, mas comentou que o produto tem uma penetração muito forte em paĂses da Europa e nos Estados Unidos. "Independentemente da Anvisa, o cigarro eletrônico estĂĄ disponĂvel, as pessoas estão utilizando e, infelizmente, isso estĂĄ criando uma futura geração de pacientes de câncer de pulmão", alertou o oncologista do Inca.
AraĂșjo afirmou que a maioria dos casos de câncer de pulmão é assintomĂĄtica, descoberta ao acaso. O sintoma mais frequente é tosse, que pode estar associada a uma bronquite crônica, a um pigarro pelo tabagismo. Mas quando essa tosse estĂĄ piorando ou associada a sangue no escarro merece uma pesquisa com o médico do paciente. Outros sintomas menos frequentes são falta de ar, perda ponderal, febre, dor no tórax, que também podem levar ao médico.
O diretor executivo da Fundação do Câncer, cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, afirmou à AgĂȘncia Brasil que continua uma pressão muito forte da indĂșstria do tabaco para liberação do cigarro eletrônico no Brasil, embora a Anvisa tenha reforçado a normativa proibindo a entrada do 'vape' no paĂs. Por isso, a entidade estĂĄ reforçando a importância de manter a proibição e a polĂtica de controle do tabaco. "Porque a gente sabe dos dados alarmantes de câncer de pulmão", disse.
Mesmo com todos os avanços da medicina, com inclusão de procedimentos e novas drogas, que permitem controlar muitos casos de câncer, o câncer de pulmão apresenta alta letalidade. "A gente tem aĂ mais de 30 mil casos novos por ano de câncer de pulmão e tem em torno de 30 mil óbitos por ano. É uma letalidade muito alta", ressaltou.
Maltoni lembrou que 80% dos cânceres de pulmão são diagnosticados em estĂĄgio mais avançado. Por isso, disse ser fundamental alertar a população da importância de se prevenir e evitar o principal agressor do desenvolvimento do câncer de pulmão, que é o tabagismo, com foco agora no cigarro eletrônico, em especial entre as camadas mais jovens.
No próximo Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, a Fundação do Câncer estĂĄ preparando campanha abordando os malefĂcios do cigarro eletrônico e divulgando nas mĂdias o movimento 'Vape off', "visando sensibilizar, principalmente, os jovens para não entrarem nessa do cigarro eletrônico", afirmou Maltoni.
Segundo ele, com a participação de alguns parceiros, serĂĄ desenvolvido um desafio universitĂĄrio, envolvendo instituições de ensino superior de todo o paĂs, para que apresentem projetos que sensibilizem a população de maneira geral, e os jovens em particular, sobre os malefĂcios do cigarro eletrônico. O objetivo é reforçar ainda mais a polĂtica de controle do tabagismo.
"A gente evoluiu tanto, reduzimos bastante o nĂșmero de fumantes no Brasil e não podemos agora retroceder nessa pressão da indĂșstria com o cigarro eletrônico, deixando aparecer uma nova juventude que acha que esse 'vape' é menos problemĂĄtico. A gente daria dez passos para trĂĄs. Essa é uma preocupação de todos nós", avaliou o médico.
O coordenador da Comissão CientĂfica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), o médico Paulo CorrĂȘa, lembrou que o câncer de pulmão é uma das principais doenças crônicas do paĂs. E que a entidade tem se pautado por ações legislativas e polĂticas. Segundo ele, a SBPT publicou, este ano, as diretrizes brasileiras de rastreamento de câncer de pulmão.
CorrĂȘa destacou que o rastreamento é uma estratégia importante do ponto de vista populacional, porque o câncer de pulmão pode não dar sintomas, mas pode matar as pessoas. "Quando se faz o diagnóstico, a pessoa jĂĄ pode morrer". Expôs que em torno de 20% dos cânceres de pulmão são resolvĂveis com tratamento cirĂșrgico.
A SBPI estimula as pessoas a abandonarem o tabagismo, seja o convencional, seja o eletrônico, sabendo que sete anos após pararem de fumar, as pessoas tĂȘm redução de 20% do risco de câncer de pulmão e, de acordo com estudo norte-americano, com 15 anos da cessação de fumar, 38% dos pacientes conseguem ser salvos. "As duas coisas são importantes: tanto a cessação do tabagismo, como o rastreamento de câncer de pulmão que, pode-se dizer, salva vidas".
Fonte: AgĂȘncia Brasil